quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O crime compensa?

("Pra não dizer que não falei das flores") 

Política/Sociedade

por Austri Junior


A minha geração cresceu ouvindo, aprendendo, e sendo ensinada pelos pais, pelos avós, pelos tios, pelos mais velhos que "o crime não compensa". Quero começar perguntando já no primeiro parágrafo: Há controvérsias? Eu gostaria, sinceramente (apesar de não ser jornalista) de entrevistar um bandido da favela e um político corrupto (de preferência um político corrupto que esteja condenado e cumprindo pena, o que é muito difícil de encontrar), para lhes perguntar: "O crime compensa?" É muita pretensão da minha minha parte, mas arriscaria dizer que o bandido diria que sim, e que o político corrupto diria que não cometeu crime algum.

 

Estariam os antigos errados? Teriam os valores mudados e invertidos, ou os antigos eram mais honestos? Seria verdadeira a afirmação de que o crime não compensa porque antigamente o crime não compensava mesmo, ou o crime não compensava para os pobres e para os negros, e por isso eles tinham essa visão em relação ao crime? De onde vem a afirmação de que o crime não compensa? Para quem realmente o crime não compensa? Sou descendente diretamente de negros e de índios, e sou de família cuja origem era de pessoas muito pobres, humildes e trabalhadoras, que sempre deram muito "duro" e "ralam" até hoje para conquistar  os seus espaços e para vencerem na vida. Claro que não sou diferente da maioria do povo brasileiro, e por isso sempre ouvi dizer (repito mais uma vez que) "o crime não compensa". Não estou dizendo que nas famílias abastadas não se pensa, não se pratica e não se compartilha da mesma visão, ou que não seja praticada a mesma ação. Lembro-me bem de que, se eu achasse algo na rua, ou se um "coleguinha" da escola me desse ou me emprestasse algo, a minha minha me sabatinava até à exaustão, e me fazia devolver tal objeto. Assim também criei e eduquei o meu filho.        

 

Hoje (principalmente) estou com a impressão de que no Brasil o crime parece compensar. Sou teólogo e como tal preciso lidar com a racionalidade e separar fortemente a razão da emoção. Um teólogo é um Cientista Social (embora há quem discorde veemente). A teologia ensinou-me que antes da apologética, e acima de tudo, necessário se faz lançar mão de duas ferramentas importantíssimas que são a exegese e a hermenêutica dos fatos, da história, e consequentemente dos acontecimentos, do texto e de todo o contexto ao qual tal situação esteja imersa e envolvida. 

 

Ontem tivemos a última seção da votação pelos embargos infringentes, onde o Decano Celso de Mello após duas hora de apologética do seu voto declarou-se favorável ao acolhimento dos infringentes. Acompanhei atentamente o discurso do Ministro que foi uma aula de direito e jurisprudência, onde ele, para justificar o seu voto, deu uma aula de jurisprudência histórica, falando a cerca da história dos julgamentos pelo STF desde os seus primórdios, ainda na época do império, falou sobre a situação do Supremo durante a ditadura militar, citou casos julgados em cortes internacionais (incluindo a Argentina), falou sobre a posição do Brasil nos acordos internacionais, citou o fato de que durante o governo FHC o Congresso rejeitou a votação pelo fim dos embargos... Como se havia dito sobre Celso de Mello, ele realmente é um Juiz muito competente e muito técnico. Gostei muito de ouvi-lo, aprendi bastante com a aula que ele deu, antes de votar, e entendi muito bem porque ele votou pela aceitação dos infringentes. O voto do Ministro Celso de Mello para mim não foi nenhuma surpresa. Como Cientista Social tiro o meu chapéu para ele, e apesar dos perigos que o voto dele nos traz, uma coisa podemos contemplar. José Dirceu terá que abandonar o seu discurso fajuto e manipulador que o coloca no  papel de pobre coitado, de vítima injustiçada e de "perseguição política", e com certeza a sua maléfica ideia de recorrer às cortes internacionais não faz mais sentido, pois o dito "chefe de quadrilha do mensalão" teve a sua segunda chance, que (infelizmente) consta do regimento interno do STF. 

 

A verdade é que a partir de agora o acolhimento dos embargos infringentes pelo Supremo poderá abrir precedentes para enxurradas de casos no STF e até mesmo em outros tribunais do pais. Processos e julgamentos intermináveis, casos que se arrastarão por longo anos. Cabe ao Congresso Nacional dar fim aos embargos infringentes, votando pelo encerramento e pela extinção dos mesmos. É fácil entender porque isso ainda não foi feito, pois os maiores e diretamente beneficiados por tão imoral recurso são em primeira instância os próprios Congressistas, que em sua maioria, vivem chafurdados em um mar de lamas e  de falcatruas políticas e financeiras com o dinheiro público. Mas nem tudo está perdido, sempre há uma luz no fim do túnel: Ontem o Congresso Nacional votou pela extinção ampla, geral e irrestrita dos votos secretos, o que me deixa um pouco mais animado. Já tem políticos propondo a extinção dos embargos infringentes, e espero que não demore muito para que isso aconteça. Apesar do acolhimento pelos embargos ter jogado um balde de água fria sobre o desejo de justiça que ferve no seio da sociedade (que já não está mais confiante no STF), espero que esse julgamento não acabe em pizza. Com certeza passaremos por muitos momentos de raiva e de ira, pois há a possibilidade de que algumas penas sejam diminuídas, revista, prescritas, e de que ladrões do erário público venham ser absolvidos durante o novo julgamento. Por isso ficamos com a eterna sensação de que não há justiça no Brasil, e de que o crime do Zé Dirceu é diferente do crime do "Zé Ninguém", que as falcatruas do Zé Genuíno é menor que as falcatruas do "Zé Bedeu", e que diante de tudo isso o povo brasileiro não passa de um  "Zé mané"...

 

A manifestação que estava marcada para ontem não  aconteceu, apenas vinte ou trinta bandidos mascarados do "black bloc" (que conseguiram esvaziar um mar de ideias), estavam em frente ao STF para protestar. Penso que o nosso protesto deve acontecer fortemente nas urnas (o que não impede o povo de sair às ruas, mas com muito cuidado por causa dos bandidos mascarados que põem tudo a perder). Não podemos deixar "passar batido" e impune os crimes  e toda a corrupção que o PT implantou no Brasil. O PT enganou quase todos, e implementou a ditadura da corrupção no país e precisa receber o troco nas urnas: PT NUNCA MAIS! Lula, Dilma, Dirceu, Genuíno, Mercadante..., fora com eles! O PSB já rompeu com esse governo corrupto e Eduardo Campos poderá ser mais uma opção. Espero que a Marina Silva consiga registrar  sua REDE SUSTENTÁVEL em tempo, para que haja frente à candidatura Dilma. Quem deveria tomar uma postura e romper com a corrupção também deveria ser o PMDB. É uma vergonha para um partido histórico e de tremenda luta contra a ditadura, como o PMDB, apoiar um governo corrupto como é o governo do PT. Penso que é uma grande ofensa às memórias do Dr. Ulysses Gumarães e do Presidente Tancredo Neves, esse apoio nefasto e incondicional que o PMDB empresta ao PT. Os antigos também diziam: "Quem se mistura com porcos, farelos come". O poder no Brasil é por tradição e culturalmente corrupto! A sensação que fica é de que no Supremo Tribunal Federal e principalmente no Brasil o crime compensa, e muito! Por isso, devemos ir às urnas em 2014, pois somente pelo voto conseguiremos exterminar a metade da podridão no Brasil. A outra metade será na base da pressão. Vamos para as ruas, sem os bandidos, sem os baderneiros, sem os mascarados, sem os extremistas e radicais, sem os black bloc. Precisamos retomar as lutas, sem armas, sem guerras, sem selvagerias. 

 

Falei sobre muitas coisas e disse o que queria 

Agora, deixo-vos essa poesia, 

ainda tão atual para para a nossa reflexão,

letra e musica valente,

que fala à nossa mente

e penetra fundo, o coração:

 

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção


Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer


Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão


Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer


Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão


Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer


Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição


Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Composição: Geraldo Vandré ·