Homenagem
por Austri Junior
por Austri Junior
Temos um sistema educacional falho, com uma pedagogia que empurra
cruelmente o educando para frente, com uma sutileza denominada
“avançar”. Que avanço é esse que passa ou “pula” alguns anos letivos,
de forma que o aluno chega ao quarto ou quinto ano do Ensino Fundamental
na condição de semianalfabeto?
O professor técnico ou simplesmente acadêmico se regozija com esse
dispositivo chamado “avanço” e se realiza em um otimismo ufano, que
parece bom para o aluno. O professor que está ali somente pelo salário,
ou por obrigação e até mesmo por falta de opção, também aplaude essa
iniciativa, pois é uma chance de se livrar daquele “fardo”. Mas
professor comprometido com a educação, ou seja, o Educador, não se sente
feliz e realizado com essa situação, por saber que isso não é avançar.
Passar o semianalfabeto é na realidade um grande veneno para o aluno e a
sua família, para a escola e para a comunidade, bem como para o país e
para a sociedade como um todo. Isso é queimar etapas!
O aprendizado e a alfabetização nas séries iniciais é fundamental
para os anos subsequentes, e a questão que coloco aqui vai muito além da
simples discussão de que o educando quando ingressa na escola muito
novo, ou quando é alfabetizado muito cedo perde o interesse pelos
estudos mais tarde. Penso que a solução para a aprendizagem não está na
faixa etária, mas na metodologia. Creio que à criança, podemos ensinar
brincando. Elas aprendem enquanto se divertem. Métodos cognitivos
avançados e ousados podem transformar a educação nesse país.
Mas ao professor desestimulado pelo baixo salário, pela violência
nas escolas, pelas péssimas condições de trabalho, pela falta de
respeito para com a sua pessoa em sala de aula e pela sua profissão por
parte dos governantes, bem como desprezado pelo seu valor construtivo e
contributivo para a sociedade, por parte dos pais que despejam os seus
filhos na escola, como se esses fossem um objeto, e a escola um grande
depósito, as minhas palavras não passam de mero “blá, blá, blá…”
Não é justo que um professor ganhe tão mal nesse país, enquanto
políticos ladrões e corruptos ganham doze vezes mais que aquele que
educa, ensina, e ajuda a construir os seres humanos, a educação, a
cultura e a sociedade brasileira. Aquele que forma o médico, o advogado,
o político, o engenheiro… é “menor” que todos esses, e ainda têm que
ouvir o imbecil do Cid Gomes, governador do Ceará, dizer que o professor
não deve brigar por maiores salários porque ser professor é vocação.
Penso que todo vocacionado, professor ou não, precisa comer,
vestir, pagar o aluguel, sustentar a família, pagar as suas dívidas,
cumprir com as suas obrigações e andar em dia com os seus compromissos.
Muito mais que isso, precisam de conforto e bem-estar. Mesmo quando esse
vocacionado seja um religioso: padre ou freira, pastor ou pastora,
missionário (a) ou evangelista… “Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário”
(1Tm 5.18). Essa palavra é para todas as classes de pessoas e de
profissionais em todo o planeta, principalmente para os professores e as
professoras que constroem as nações no mundo inteiro. Mas os políticos
corruptos só querem para si.
Também não é justo, que o professor seja responsabilizado e até
mesmo culpado, quando o aluno não quer aprender por preguiça,
desinteresse, falta de limites que trazem de casa, reflexo da decadência
das famílias, da sociedade, e do caos gerado pela crise moral e social.
Os professores trabalham hoje sem a mínima condições de lecionar:
falta de investimento, na carreira, impossibilidade de pagar uma
formação continuada, falta de materiais, escolas sucateadas, ambientes
hostis, falta de segurança… São espancados e arrastados pelos cabelos,
quando reivindicam melhoria salarial. Pouco se oferece ao professor, e
muito se cobra. Enquanto isso... “O salário, ó!”
01
terça-feira
nov 2011
Publicado Educação, Cultura e Sociedade em