Por Leonardo Stuepp
Cientistas querem agricultores e
ambientalistas trabalhando juntos. Objetivo é promover produção
de comida mais sustentável e impedir que expansão das lavouras acabe com
ecossistemas
Marco
Túlio Pires, do Rio de Janeiro
Agricultores e
ambientalistas devem - ou deveriam - trabalhar juntos para impedir que a
expansão das plantações "engula" ecossistemas e prejudique o
equilíbrio entre a produção de comida e o desenvolvimento sustentável do
planeta. A proposta, bem mais equilibrada que os extremos de parte a parte,
como na discussão sobre o Código Florestal, foi lançada no Fórum de Ciência, Inovação e Tecnologia para o
Desenvolvimento Sustentável. O
encontro reúne 990 cientistas de 75 países para produzir um documento com
sugestões aos chefes de estado que participaram da reunião de cúpula da Rio+20 entre os dias
20 e 22 de janeiro. O painel também discutiu como o aquecimento global pode
afetar a segurança alimentar e a distribuição de comida no globo.
De acordo com Tim
Benton, ecologista da Universidade de Leeds, no Reino Unido, 25% dos gases que
aceleram o efeito estufa são provenientes da agricultura. Ao todo, o planeta
possui uma área plantada de 4,9 bilhões de hectares. Por isso melhorar as
práticas agrícolas pode ter um impacto significativo no clima do planeta. “O
problema é que não conseguimos medir a sustentabilidade na agricultura”, diz
Benton. “As lavouras causam impacto que muitas vezes não são percebidos
localmente, como a poluição de rios por meio de agrotóxicos, que podem
contaminar peixes e causar doenças em seres humanos e outros animais.”
Lado a
lado - Benton acredita que uma
forma de transformar a agricultura em uma prática mais sustentável é colocar
ambientalistas e agricultores trabalhando lado a lado. “Além de produzir
comida, temos que ampliar os ‘serviços de ecossistema’”. O pesquisador se refere
a práticas de tratamento de água, polinização e manutenção dos inimigos
naturais das plantas, dentro e ao redor da lavoura. “São ações que gerenciam a
fertilidade do solo, a reciclagem de lixo antes e depois da colheita e ao mesmo
tempo cuidam do equilíbrio natural do ambiente”, diz.
Para Benton, isso
pode significar dividir a área cultivada em duas. Uma para o plantio e outra
para concentrar os serviços de ecossistema, com estações de tratamento de água,
colônias de polinização e a manutenção dos inimigos naturais das plantas.
Benton comparou a prática com a linha de produção de uma fábrica de carros.
“Enquanto uma parte cuida da produção de comida, a outra mantém o equilíbrio do
ambiente”, diz. “Pode ser a saída viável em muitos casos”, acredita.
Lavoura
resistente – As mudanças
climáticas também podem afetar o preço das commodities alimentares, como arroz
e soja. Ram Badan Singh, da Academia Indiana de Ciências Agrícolas, afirma que
a commodity mais afetada será o trigo. “O preço pode aumentar mais de 90% até
2050 por causa do aquecimento global”, diz. Isso porque o alimento pode ficar
escasso ou encontrar dificuldades para crescer nas regiões apropriadas. Por
isso, a ciência precisará desenvolver plantas mais preparadas para um clima
mais agressivo. “Precisamos de sementes mais resistentes à falta de água, à
salinidade, ao calor e que gerem plantas mais resistentes a pestes”, diz.
O pesquisador
afirma que ainda há muito potencial para aumentar a produção de alimentos.
Melhorando técnicas agrícolas, por exemplo, seria possível produzir 6.000
quilos de trigo por hectare, o dobro do que é produzido hoje. No caso do arroz,
o impacto seria ainda maior. “Se aproveitássemos todo o potencial de produção,
seria possível produzir 8.000 quilos de arroz por hectare”, diz. Atualmente,
apenas 2.000 quilos são produzidos na mesma área.