São elas:
1. Teólogo por quê?
2. Teólogo para quê?
Conversando sobre a primeira pergunta
A resposta para a primeira pergunta: 'Teólogo por quê?'
é subjetiva, e, evidentemente, eu só poderia responder essa pergunta
baseada nos meus ideais. É claro que muitos candidatos a Teólogos chegam
à academia, cheios de ideais (espirituais), confundindo facilmente a
Teologia com a religião, e entre os objetivos principais da escolha de
um candidato pela Teologia, está a doce ilusão pelo 'conhecimento
profundo da Palavra de Deus'. Nessa busca profunda pelo ‘conhecimento
profundo da Palavra de Deus’, estão embutidos vários interesses e
conceitos. Esses interesses podem ser, entre outros, inocentes,
infantis, ou arrogantes. Em algumas pessoas, aparecem os três casos ou
mais.
Os inocentes
Os
inocentes se decepcionam e não duram muito, logo vão embora, com medo
de ‘perder a fé’. Dado a esse fato, sempre questiono: Se o conhecimento
faz alguém perder a fé, é porque, fé esse alguém não tinha. E se não
tem, não pode perder. Ninguém perde o que não possui.
Os Arrogantes
Os
arrogantes pensam que sabem mais que todos. Inclusive, eles/elas pensam
que os professores sabem menos que eles. Os arrogantes pensam que vão
aprender muito, e que vão ficar melhores e mais sábios que todos à sua
volta. Mas o pior arrogante entre os arrogantes são aqueles que por
pensarem saber mais que os professores, passam meses, e até anos,
envolvidos em embates e polêmicas inúteis, atrapalhando o curso da aula,
e atrapalhando os que querem ouvir e conversar – teologar
– para aprender. Os arrogantes são os verdadeiros servos inúteis, dos
quais a bíblia nos fala. Esses classificam tudo como sendo ‘obra do
diabo’, inclusive a Teologia e os Teólogos, e se dizem guerreiros,
soldados de Cristo, empunhando uma ‘espada apologética’ enferrujada,
tentando matar a todos e a tudo que não convergem com aquilo em que ele
ou ela acreditam, e seguem numa batalha desesperada, tentando ‘blindar’ a
bíblia por todos os lados, com um furioso e até mesmo, com um rancoroso
discurso de ser ‘o guardião, ou, a guardiã da sã doutrina’.
Os infantis
Os
infantis pensam que vão aprender tudo e sanar todas as suas dúvidas.
Ledo engano! Mas, se sobreviverem ao conhecimento que desvenda mitos e
lendas, que revela a verdade e lança luz sobre alguns mistérios, através
da hermenêutica, e de outras disciplinas, esses amadurecem, perdem a fé
cega e infantil que ‘emburrece’, crescem e dão frutos, porque, com a fé
fortalecida e com a crença, agora adulta, podem caminhar livremente.
Livres do fundamentalismo, dos preconceitos, das doutrinas, das
manipulações... E se tornam capazes de construir os seus próprios
pensamentos, porque conseguem Teologizar –
Construir as suas próprias Teologias, além de ler e interpretar as
Teologias já existentes, e, até mesmo, desconstruir não somente muitos
equívocos teológicos, mas, repensar e re-significar algumas teologias.
Muitas delas, hoje, ultrapassadas.
Aqueles que estão
humildemente 'antenados', logo aprendem que sairão da academia com muito
mais dúvidas do que quando entraram. Isso muitas vezes choca a nossa
infantilidade. Há outra coisa que fica muito clara também no inicio: A
Teologia é uma busca profunda e constante – pesquisa séria – e o nome do curso deixa isso muito claro: ‘Bacharelado em Teologia’. Portanto, um ‘Bacharel em Teologia’, é
um pesquisador. Não se faz Teologia sem pesquisas. O Teólogo que não lê
e não pesquisa, pode desistir da profissão ou do título de Teólogo.
Outra situação que o teologando (estudante de Teologia), percebe logo nos primeiros meses de trabalho na academia, é que a Teologia se aprende estudando e teologizando, ou seja, fazendo e produzindo Teologia. O que nos leva ao entendimento de que o Teólogo será sempre um teologando.
Ninguém está pronto. O que é muito positivo, pois em um copo cheio,
não cabe mais nada, e muitas vezes, é necessário esvaziar o copo. Mas
nem todos têm essa percepção.
Conversando sobre a segunda pergunta: ‘Teólogo para que?’
Esse
deveria ser o primeiro questionamento que um candidato ao Bacharelado
em Teologia deveria se fazer, junto às suas variantes:
1- Para
quê eu quero ser um Teólogo? (percebam que eu formulei a pergunta com
‘para quê? ’ e não ‘por quê? ’ – Há uma enorme diferença!);
2- Para que serve o Teólogo?
3- Para quê mais um Teólogo?
Cabem
nesse contexto muitas perguntas, e, talvez você esteja questionando
agora: porque ele não perguntou: ‘Para que, isso?’ ou, ‘Para que,
aquilo...?’ Bem, talvez a resposta seja: Eu não pensei em o que você
está pensando, ou, eu não considero tal ou tais perguntas relevantes.
Mas com certeza, a minha resposta para você é: por uma questão de bom
senso acadêmico, eu não pretendo esgotar o assunto. Contudo, mais
importante que não esgotar o assunto, é: Dar-lhes elementos para pensar e
para questionar. É isso que a Teologia faz, e é para isso que serve um
Teólogo, entre outras coisas. Seria muita ingenuidade da nossa parte, em
qualquer que seja a área do conhecimento, buscar esgotar um assunto de
uma só vez.
Antes de prosseguir quero chamar a sua atenção para que observe que o verbo ‘construir’,
aparece no texto, repetidas vezes e com certa insistência. Isso por
que, considero que um Teólogo é um ‘engenheiro’, cuja função é construir
principalmente pontes e estradas nos relacionamentos humanos, e
desconstruir (implodir), ruínas e estruturas que comprometem a segurança
dos seres humanos. Apesar de que a palavra Teologia, literalmente
traduzida significa estudo à cerca de Deus, ou, das coisas de Deus – Teo = Deus, Logia = Estudo, conhecimento - a Teologia é uma Ciência Antropológica.
É
impossível tentar conhecer a Deus e as suas coisas, ignorando o homem.
Uma ótima definição do que é a Teologia, que ouvi na academia, e que
tomei para minha vida acadêmica e intelectual, é: “A Teologia são tentativas humanas de entender a Deus”. Por isso, um Teólogo dispõe de duas ferramentas importantíssimas para o seu trabalho.
A primeira ferramenta é a Razão
– o raciocínio e o discernimento – (Rm 12.1), e esses devem vir
acompanhados do bom senso, da temperança, da paciência, da boa vontade,
da perseverança, do Amor... Isso lhe parece familiar? É claro que isso
lhe é familiar. Os Apóstolos Paulo (na Epístola destinada aos Gálatas) e
Pedro (em sua Segunda Epístola) nos escreveram falando sobre essas
atitudes. E por que nos escreveram eles, sobre isso? Porque aprenderam
de Jesus, que aprendeu de Deus, que sabe o que é melhor para nós.
A segunda ferramenta é a Bíblia
– Não se faz Teologia Cristã sem a bíblia. É sobre a bíblia que são
feitos os questionamentos hermenêuticos, exegéticos, históricos,
homiléticos, apologéticos...
Entretanto, esses
questionamentos não podem ser cegos, passionais, irracionais,
irreflexivos, intransigentes, intolerantes, pessoais, fundamentalistas,
extremistas, radicais...
A bíblia não
precisa da nossa blindagem, assim como Deus não precisa que tomemos as
suas ‘dores’ – Ele tomou as nossas. Lembra-se? – ‘Deus pode aguentar
muito bem essa parada’. Nós é que não aguentamos, e por isso saímos por
aí brigando com todo mundo e com todo o mundo, colecionando inimigos e
antipatias gratuitamente, e com isso, desperdiçamos a oportunidade de
Evangelizar, de transmitir a Paz de Cristo e o Amor de Deus. Com nossas
atitudes negativas, perdemos a oportunidade de ajudar as pessoas e
acabamos transformando o Cristianismo em religião indesejável,
abominável e de quinta categoria.
Ser Teólogo
Ser Teólogo é descortinar o impossível! Não falo aqui, de Deus, mas, das grandes tempestades trazidas pelas religiões que não foram criadas por Deus (nenhuma delas), mas sim, por seres humanos. Somente um Teólogo descomprometido com a religião e com a religiosidade cega e parcial, que geralmente é irracional, pois vêm carregadas com emoções e sentimentos humanos, pode combater e tentar desconstruir os conceitos negativos gerados pelos 'predadores do Evangelho', que, com as suas pregações desvairadas, suas hemenêuticas toscas, e com as suas doenças emocionais, bem como, com as suas faltas de conhecimento teológico (mesmo que possuam um diploma, ou certificado de teologia), e também com as suas ambições desonestas que manipulam os versículos bíblicos e se aproveitam da fé cega e infantil dos desavisados para pregar prosperidade e ganhar dinheiro.
Ser Teólogo é descortinar o impossível! Não falo aqui, de Deus, mas, das grandes tempestades trazidas pelas religiões que não foram criadas por Deus (nenhuma delas), mas sim, por seres humanos. Somente um Teólogo descomprometido com a religião e com a religiosidade cega e parcial, que geralmente é irracional, pois vêm carregadas com emoções e sentimentos humanos, pode combater e tentar desconstruir os conceitos negativos gerados pelos 'predadores do Evangelho', que, com as suas pregações desvairadas, suas hemenêuticas toscas, e com as suas doenças emocionais, bem como, com as suas faltas de conhecimento teológico (mesmo que possuam um diploma, ou certificado de teologia), e também com as suas ambições desonestas que manipulam os versículos bíblicos e se aproveitam da fé cega e infantil dos desavisados para pregar prosperidade e ganhar dinheiro.
Ser Teólogo é sofrer a ingratidão da igreja,
corpo e instituição, e o não reconhecimento da sociedade, de forma que
em sua vida, o Teólogo é quase um ‘patinho feio’: Não encontra um lugar
para viver e conviver com os outros, até que descubra a beleza de ser
Teólogo, e se assuma com tal, em meio às intempéries e desconfianças.
Ser
Teólogo é assumir as suas posições, e não se colocar em cima de um
muro, ou se camuflar como um camaleão, de acordo com o ambiente. Mas
para isso, terá que pagar um preço alto, e amargar rótulos tais como:
Herege, Libertino, Desobediente, Servo do demônio, Anti-Cristo... E ser
ostracizado, muitas vezes, literalmente banido e exilado.
Ser Teólogo é não poder exercer a profissão, porque, apesar de que agora a Teologia já é reconhecida como profissão, a ‘Profissão Teólogo’ não é reconhecida nem pela Igreja, muito menos pela sociedade. Lembro-me do dia em que Júlio Zabatieiro, disse na aula de ‘Religião, Modernidade e Desencanto’ no curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião: “- O Teólogo é mais importante que o Sacerdote”.
Por um instante, os meus olhos brilharam como os de uma criança em
frente a uma vitrina cheia de doces. Mas logo em seguida ele disse: “- Entretanto, o sacerdote vem em primeiro lugar na preferência popular, pois o povo rejeita o Teólogo, em detrimento do Sacerdote”.
Isso se reflete na sociedade de uma maneira geral, e, embora a
importância do Teólogo seja de vital valor em vários âmbitos, e o mesmo
deveria ser consultado em diversos momentos que envolvem o ser humano, e
a sociedade inclusive com análise antropológica, é muito comum ver
muito mais Teólogos procurando emprego, do que qualquer outro
profissional da área de Ciências Humanas e Sociais. O Teólogo é aquele
que não ganha dinheiro com a profissão, e é o profissional que mais
trabalha fora da sua área. Ele faz tudo, menos Teologia.
O Teólogo é um Cientista Social, porque a Teologia não é religião. Teologia é Ciência. Ciências Sociais - Ciência Humana.
Pense: Teólogo para quê?
Penso
que o Teólogo é para ser diferente e fazer a diferença. Buscar a
unidade da igreja com a Igreja. Teólogo para promover o ecumenismo entre
Cristãos, ‘afim de que todos sejam um’, como O
Pai é no Filho, também sejamos nós n’Eles, e uns para com os outros.
Teólogo para construir pontes entre a igreja (instituição) e a
sociedade. Teólogo para ajudar na construção de uma Igreja (corpo de
Cristo) sadia e saudável, com menos doenças causadas pela religiosidade e
pela ignorância bíblica. Teólogo para desconstruir as trincheiras, os
muros e as muralhas construídas pela igreja e pela Igreja diante da
sociedade, do conhecimento, da ciência... Diante do mundo, diante de
tudo porque cometeram muitos erros de hermenêutica, não fizeram as
exegeses corretas e se separaram do ‘mundo’. Teólogos e Teólogas para
construir, para amar, para orientar, para instruir, para ensinar e para
aprender. Teólogos e Teólogas para protestarem contra as injustiças e
mazelas sociais, contra as injustiças e mazelas das e nas igrejas
(instituições). Teólogos e Teólogas para protestarem contra as igrejas
evangélicas e suas doutrinas miseráveis, pobres e opressoras que estão
distorcendo o Evangelho de Cristo, manchando o Cristianismo e adoecendo
as pessoas... Teólogos e Teólogas para fazerem a diferença em um mundo
conturbado, cheio de violência e desgraças (literalmente fora da Graça
Divina). Teólogos e Teólogas para resgatarem o Cristianismo e o
Protestantismo, e não para serem mais um a distorcerem a ‘Palavra de
Deus’, a manipularem as pessoas, os fatos e os sermões...
Teólogos
para tantas coisas... Coisas que nos faltam. Coisas que ainda estão por
fazer, desfazer, ver e rever... Teólogos para ressignificar a Teologia e
a igreja. Teólogos para construir Teologias sadias e significativas.
Teólogos para construir uma Teologia prática, social e libertária.
Uma
Teologia que nos liberte terminantemente das amarras cativas, do
fundamentalismo, da sóciopatia, da in-tolerância burra, cega e odiosa
que odeia tudo e todos sob o rótulo cínico e hipócrita de ser o ‘ungido
de Deus’ que vai ‘pregar a verdade’, doa a quem doer “proclamando que
não devemos nos contentar com as 'coisas desse mundo', e que devemos
ficar atentos para não nos acovardarmos diante das ‘coisas erradas’ da
sociedade, sendo conivente e compactuando com o mal, sob o rótulo da
tolerância”.
Portanto, amadas irmãs e amados irmãos, Teólogos para quê?
Penso eu: Teólogos para antes de tudo, se perguntarem:
‘- Teólogo Por quê?’